Muricy e o 4-3-3 – O que a torcida ainda não entendeu.
Foto: Gilvan de Souza/CR Flamengo |
GOAL: Por Bruno Guedes
Às vezes parece que o futebol pentacampeão desaprendeu tudo o que ele produziu e exportou. Atualmente se tornou comum culpar o esquema 4-3-3 implantado por Muricy Ramalho como o grande vilão dos problemas táticos. Mas esquecem que, hoje em dia, esses números são apenas formalidades. Em campo, a história é bem diferente. Jogar sem a bola se tornou tão fundamental quanto com ela.
Durante uma época o Brasil sempre foi vanguarda em termos táticos, como em 1958. À época, Zagallo fazia a ponta esquerda no esquema 4-2-4. Mas como voltava para marcar, algo inédito até então, virava um 4-3-3 com Zito e Didi no meio. Revolucionou o futebol. Com essa explicação rápida consegue se exemplificar como dentro de campo os números táticos são diferentes dos que apenas servem para ilustrar jornais e televisões se usados de forma inteligente.
A torcida e os comentaristas culpam o esquema atual do Flamengo pelos péssimos resultados e a exposição da defesa Rubro-Negra. Não é de todo verdade. No futebol atual as equipes variam em até três estruturas táticas dentro de uma partida. E aí sim entra a importante participação dos jogadores e técnico para conseguir implantar uma prática esportiva moderna ou não. E isso não acontece no time do Muricy, onde os atletas parecem apenas “marcar” posição.
Em diversos clubes, como por exemplo o Bayern do Guardiola, o Chile do Sampaoli ou até mesmo o Corinthians do Tite, os dois pontas, no caso Rubro-Negro são Sheik e Cirino, sem a posse da bola eles voltam para recompor defensivamente. E essa recomposição é que evita (ou deveria) a abertura de espaços, protege o sistema defensivo e faz a variação.
Guardiola reinventou essa estrutura quando transformou o tradicional 4-3-3 do Barcelona em várias outras, inclusive um 4-4-2. Pedro voltava pela direita e fazia a recomposição do meio. No Real Madrid, Ancelotti fez quase parecido. Para não perder a força ofensiva com Bale, Benzema e Cristiano Ronaldo, forçava o galês a voltar e recompor as duas linhas de quatro. No Chile, Sampaoli fez o seu aparente 4-3-3 se transformar num 3-4-3 com a bola e 4-1-4-1 sem ela, com Sánchez voltando.
Se o leitor conseguiu entender o raciocínio, compreendeu aonde quero chegar. É possível sim o 4-3-3 do Flamengo funcionar, mas isso depende de como o time se recompõe sem a bola e a fundamental participação dos pontas. Como isso pode variar, num 4-5-1, 4-4-2 ou outro, depende não só do Muricy enxergar o que quer da equipe, mas também a sua transição ofensiva com a bola.