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quarta-feira, 23 outubro, 2024

Por que é tão raro ver estilos marcantes nos times brasileiros?

No Flamengo, Muricy Ramalho buscou um jogo de posse de bola, ofensivo, com alta exigência coletiva.
20 de maio de 2016
Foto: Gilvan de Souza / Flamengo

O GLOBO: Há times que desenvolvem formas tão próprias de atuar que, exageros à parte, dão a sensação de que seriam reconhecíveis em qualquer uniforme. Têm o que se chama estilo: uma ideia central, o pilar que permite edificar o jogo. Seja a troca de passes desde a defesa, as bolas longas, o controle da bola ou o contragolpe. Por que é tão raro ver estilos marcantes nos times brasileiros?

O jeito de jogar do Barcelona é um selo de identidade. Assim como o do Bayern, o do Atlético de Madrid. Não se trata de comparar qualidade técnica ou poderio financeiro, como ensina o colombiano Atlético Nacional, que mantém Reinaldo Rueda há quase um ano, preservando a ideia implantada por Juan Carlos Osorio, ex-São Paulo. Um time que fez do apego e da crença numa filosofia o motor da incrível virada sobre o Rosario Central, na quinta-feira. O estilo foi inegociável, mesmo com o time na UTI da Libertadores.

Não se trata, tampouco, de culpar treinadores brasileiros, nem de compará-los aos estrangeiros. É desigual, porque são submetidos a condições de trabalho, calendário e pressão incomparáveis. O ambiente é hostil às convicções, à implantação e consolidação de modelos de jogo — em especial aqueles com maior grau de sofisticação, voltados mais para a construção do jogo do que para o contragolpe. Construir é mais difícil do que destruir.

O resultado é a busca de soluções práticas para cada jogo. Porque é o amanhã que importa. Imperam as tarefas mais básicas, como a busca por marcação forte, times compactos e velocidade. É quase regra. A sensação é de times parecidos, raras exibições marcantes de identidade. Ao menos, até que resultados sustentem trabalhos e estes, ao poucos, imponham marcas. Num ambiente de redução de espaços e pouco tempo de desenvolvimento coletivo para construir jogo, é normal que haja rodadas como a que inaugurou o Brasileirão: 14 gols em dez jogos. A tendência é melhorar.

Treina-se pouco, joga-se demais. Enquanto técnicos caem e elencos mudam sem parar. Diante do quadro, é natural ser mais conservador.

Levir Culpi tenta instalar um modelo no Fluminense. Mas qual? Pouco antes do início do Brasileiro, revelou que ainda tentava entender a característica do elenco: posse de bola ou contragolpe? Na quinta-feira, ao “Globoesporte.com”, admitiu que o tricolor oscila demais. Traços de um trabalho em construção.

No Flamengo, Muricy Ramalho buscou um jogo de posse de bola, ofensivo, com alta exigência coletiva. Um risco que cobrou seu preço em forma de resultados e cobrança imediata. Mesmo após vencer o Sport, era visível que a convicção já duelava com a vida real. E Muricy admitiu que “agora é jogar pra ganhar”, depois de “ser ousado e perder todos os jogos”.

Jorginho está no Vasco desde agosto passado. Não por acaso, seu time tem o tal estilo marcado, uma assinatura. Tempo, entre outros proveitos, traz intimidade com o elenco. Um recém-chegado por certo ignoraria a existência, no banco, de um zagueiro capaz de fazer as vezes de centroavante. Com todo o grau de improbabilidade contido no gol de Rafael Vaz contra o CRB.

O futebol brasileiro, em sua lógica resultadista, inibe ousadias, propostas que enriqueçam o jogo. É como a busca da sobrevivência.

Os dois últimos remanescentes brasileiros na Libertadores, com técnicos estrangeiros, fizeram duelos marcados pela aposta em defesas fortes, negação de espaços ao rival e transição rápida. É o modelo predominante nas condições de trabalho oferecidas e nas ameaças impostas a treinadores.

Segue o São Paulo na Libertadores, exaltado por virtudes localizadas muito mais no terreno da solidariedade, do esforço, da capacidade de defender e sofrer do que, propriamente, na elaboração de um jogo vistoso, sofisticado. Não é pecado; defender bem também é virtude, embora se possa duvidar da contribuição ao nosso futebol. Gostando-se ou não, o fato é que Edgardo Bauza faz o São Paulo executar justamente o tipo de futebol em que acredita: é seu jeito de sentir o jogo. Fica à vontade duelando neste terreno.

A quarta de final brasileira foi um confronto de eficiência, de aproveitamento das raras chances. O Atlético-MG até criou mais. Como a bola mineira não entrou, Diego Aguirre caiu. Poderia ter caído Bauza. Dois trabalhos recentes, julgados como se já fizessem aniversário.

Chega outro treinador ao Atlético-MG, como já chegaram em outros oito clubes da Série A em quatro meses de temporada. Se tiver resultados imediatos, poderá construir um time que imponha estilo. Talvez mais arejado e construtivo. Como fizeram Tite no Corinthians, Levir no próprio Atlético-MG, como fez o modesto Audax, como tenta fazer Roger no Grêmio. Em comum, todos tiveram tempo. Caso contrário, jogará a cada semana a decisão de seu futuro, tentado a contentar-se com soluções práticas. E seguiremos vendo o jogo de uma nota só.

Carlos Eduardo Mansur

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