Por que Muricy?
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BUTECO DO FLAMENGO: Salve, Buteco! O Mais Querido começou o Brasileiro com três pontos, o que não tem sido comum. É bem verdade que não foi uma apresentação de gala, longe disso, mas o time venceu sem que o adversário efetivamente ameaçasse a nossa meta. Como Muricy, na entrevista coletiva pós-jogo, falou em pragmatismo e em jogar para vencer, e levando-se em conta ainda o que ocorreu dentro de campo, muitos estão dando por certa a volta do “Muricybol” e o abandono da suposta tentativa de “jogar como o Barcelona”. Mas até onde será que está ou estava a verdade em ambas as posições extremas? Afinal de contas, jogamos no 4-4-2 ou no 4-3-3? Em uma foto publicada por Raphael Zarko (Globo Esporte.com) no Twitter, cheguei a enxergar um 4-2-3-1 (rsrsrsrs). Percebo que muita gente não se entende nesse aspecto. Bem, sem tentar divagar ao responder às intrigantes perguntas, até porque prefiro esperar um pouco mais antes de tirar minhas próprias conclusões, devo confessar a vocês que a apresentação do time não me empolgou. Achei que começou bem, o que levou naturalmente à abertura da contagem, e depois poderia até ter ampliado o placar, mas a partir de cerca da metade do primeiro tempo o jogo ficou muito ruim, piorando na segunda etapa.
Curioso, nesse contexto, é cotejar as declarações de Muricy Ramalho com suas substituições e a reação de cada jogador substituído. Ao meu ver, o melhor e mais importante jogador do Flamengo é o zagueiro Juan. Basta observarmos sua qualidade técnica e o seu currículo. Contudo, do meio para frente Muricy substituiu os outros três jogadores com mais nome no elenco. Guerrero saiu resmungando e prefiro não tirar conclusões precipitadas a apontar sem fundamento contra quem reclamou (pode ter sido até de si mesmo); Sheik pareceu sair com semblante taciturno e em silêncio, enquanto Mancuello foi o que teve atitude mais positiva, indo cumprimentar o treinador, mostrando cada vez mais ser um jogador de influência positiva e uma boa contratação da Diretoria.
Se Muricy quis mostrar ao elenco que ninguém é titular absoluto e quem produzir mais será titular, deu um grande passo para o Flamengo alcançar melhor campanha nesse Brasileiro.
A propósito, Mancuello jogou mal, tanto no apoio, quanto na marcação. Como já o vi, inclusive ao vivo (no estádio), desempenhando muito bem as duas funções, sei que pode perfeitamente render muito mais, inclusive em movimentação. Também não gostei das atuações de Jorge, Emerson Sheik e Guerrero e, portanto, acho que Muricy escolheu bem os substituídos. Cuéllar e Everton, para mim, foram os melhores em campo, enquanto Rodinei, Arão e a dupla de zaga também tiveram atuações corretas. E o time pareceu melhorar sensivelmente com as substituições, criando quatro situações claras de gol, embora se possa contrapor que o Sport correu mais riscos no final da partida tentando empatar. De todo modo, a formação que terminou a partida me pareceu mais rápida e leve, e portanto mais propícia para explorar os espaços que a defesa adversária oferecia, contexto no qual achei interessante, em primeira análise, a atuação de Ederson mais adiantado. Talvez possa dar certo ao lado de Marcelo Cirino, mas a formação precisa se provar diante de sistemas defensivos mais fechados e que por isso oferecem menos espaço.
O texto traz uma pergunta e eu gostaria de oferecer a vocês a minha resposta. Não acho que veremos o Flamengo jogando como o Barcelona ou, trazendo o debate para um patamar mais palpável e realista, será grande surpresa se, com Muricy Ramalho, chegar ao nível dos times melhor postados e avançados em nível tático do Brasil, que dizer do continente sul-americano. Todavia, penso que, se o Flamengo não é mais o clube completamente desorganizado e caótico em nível de estrutura e organização extracampo no Departamento de Futebol, ainda restam passos importantes a serem tomados e o treinador Muricy Ramalho, ainda que com seu jeito de ser um tanto rabugento e sua personalidade peculiarmente ranzinza, porém inegavelmente séria, é um protagonista muito importante no processo, por dois motivos: primeiro, porque Muricy conhece e já trabalhou em um clube que tem uma estrutura de ponta e vencedora, tanto de formação de atletas como em nível profissional; segundo, porque Muricy topou o desafio.
Eis o meu receio do treinador estrangeiro ou até mesmo com eventual nova troca de treinador no atual momento do Flamengo, que mal conseguiu ultrapassar a fase do ciclo vicioso das demissões quadrimestrais de treinadores e do cemitério de jogadores importantes. Muricy talvez venha a ser o treinador que receberá e inaugurará o tão esperado Centro de Treinamento (módulo profissional), conforme planejado, e que insistirá na estrela (p. ex. Guerrero) que inegavelmente está sentido o imenso peso da camisa até que desvire o fio. Muricy talvez venha ser o treinador que mudará a cultura imediatista do clube.
O Flamengo talvez estivesse melhor treinado em nível tático com outro profissional, mas talvez esse outro treinador ainda não conseguisse sobreviver ao que restou da máquina trituradora, que ainda não foi totalmente desmontada, ou simplesmente não tivesse paciência, como Mano Menezes não teve. O Flamengo ainda não se acertou em nível de gestão no Departamento de Futebol.
Sem modificar uma linha do que já escrevi em textos anteriores, inclusive em relação comparações que já fiz de Muricy com outros treinadores brasileiros e desses com estrangeiros, gostaria de, com alguns exemplos, encerrar o texto de hoje ressaltando como é importante analisar o trabalho dos treinadores a longo prazo. Roger, revelação do Grêmio, terceiro colocado no Brasileiro/2015, com elenco mantido, teve péssimos resultados no primeiro semestre, sendo completamente envolvido pelo Rosario Central de Eduardo Coudet. Levir Culpi, supostamente antigo treinador “reciclado e modernizado”, foi demitido do Atlético/MG mesmo tendo conseguido o segundo lugar no Brasileiro/2015, e quem se dar ao trabalho de assistir pelo YouTube ao festival de chuveirinhos do time que comandava e foi engolido, no Mineirão, pelo Grêmio do mesmo Roger talvez comece a encontrar a explicação de sua troca por Diego Aguirre, que até aqui, por sinal, não mostrou a que veio, como também não havia mostrado no Internacional (com todo o respeito). E Tite, o “superstar” dos treinadores brasileiros, inobstante sua inegável qualidade, teve um primeiro semestre para esquecer. Já Levir Culpi, no Fluminense, após um início promissor, foi eliminado pelo… Botafogo, de Ricardo Gomes, aquele mesmo, “O Breve”, que por sua perdeu para Jorginho, “O Brevíssimo” (rsrsrsrsrs).
Bom dia e SRN a tod@s.
Gustavo Brasília