Vídeo: Análise tática – Falta intensidade no Flamengo.
PAINEL TÁTICO: Você leu aqui no Painel Tático, em março, que as ideias de Muricy Ramalho já davam resultado no Flamengo. Foi falar e…de lá pra cá, foram 17 jogos e apenas 5 vitórias – eliminações no Carioca, Primeira Liga e vexame na Copa do Brasil. Cenário perfeito para mais uma crise na Gávea™, quase uma entidade mística do futebol brasileiro.
Os 26 jogos até aqui não são nem 40% do 2016 de Flamengo. Tempo curto para o choque de filosofia que Caetano e Muricy prometeram, bem como para a “transição” para um modelo de jogo que priorize as jogadas trabalhadas pelo chão no 4-3-3 rubro-negro. Apesar desse início de trabalho, nenhum flamenguista está satisfeito com o desempenho da equipe.
É possível notar uma preocupação em jogar no campo adversário, com linhas altas e trocando passes do círculo central pra frente. A preocupação com o bom passe é tanta que Cuéllar sempre aparece mais recuado, na frente dos zagueiros.
Só que o Flamengo cria pouco. Finaliza pouco. Joga distante, lento. O problema mora no coletivo, nos movimentos de quem não está com a bola. Poucas vezes se vê aproximação de quem está com a bola, criando linhas de passes para circular até quebrar as linhas do adversário. Isso tem nome: apoio. O Fla trabalha mal o apoio, e quando o faz, é no seu próprio campo ou sob marcação intensa. Resultado: o adversário nunca é desequilibrado e a bola sempre volta pra defesa.
Falta apoio, intensidade e infiltrações para que essa posse de bola se transforme em situações de perigo, com o adversário desorganizado. Pior: falta intensidade. Tudo no Fla parece acontecer numa velocidade e concentração abaixo do normal: os passes não se transformam em gols, o adversário se fecha, a recomposição defensiva é lenta e a linha de defesa fica vulnerável, como Vasco e Fortaleza bem aproveitaram.
Muricy optou por variar o sistema tático e priorizar o passe: primeiro, colocou Ederson num 4-2-3-1. Depois, encaixou Alan Patrick e Mancuello num 4-2-2, em momentos um losango no meio-campo. Não adianta: o problema do Fla não é esquema, é a forma de jogar que é mal executada.
A “inspiração no Barcelona”, que jornalistas e torcedores gostam tanto de frisar, parece ser mais um problema que solução. Todo mundo admira, mas será que existe o conhecimento de COMO o Barcelona joga? De como treina?
Não adianta copiar o 4-3-3. Na prática, o mais importante é o modelo de jogo. No Barça, as ações acontecem em alta velocidade e a equipe inteira trabalha para criar espaços no adversário. Os treinamentos são curtos, com máxima intensidade e sempre focam em um aspecto tático do modelo de jogo.
No Fla, Cuéllar se mostra um jogador promissor, mas não conseguirá trocar passes com qualidade se ninguém se aproxima. O problema então é o coletivo – o que os outros fazem sem a bola, no ataque.
Num futebol cada vez mais intenso, não faz mais sentido separar o físico do tático e técnico. Será que causa o efeito desejado treinar chutes a gol, sendo que na partida, esses chutes acontecem de uma maneira diferente? E os longos coletivos táticos, dão resultado se o jogo em si é jogado num contexto muito diferente?
Todos torcem pela recuperação de Muricy, que se voltar ao Fla, enfrentará problemas imensos. A solução pode estar em focar menos em como o Barcelona joga e mais em como treina.