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quarta-feira, 23 outubro, 2024

‘Novo’ Flamengo precisa de pitadas do velho no futebol.

Sem a loucura que quase afundou o clube, com a insanidade saudável de crer na utopia que consta no próprio hino: “vencer, vencer, vencer''.
26 de maio de 2016
Foto: Divulgação

BLOG DO ANDRÉ ROCHA: Muricy Ramalho vai cuidar da saúde, Abel Braga deve voltar ao clube após 12 anos, um título estadual e derrota histórica para o Santo André na Copa do Brasil. É técnico conciliador, para abafar a crise que transcende o time de futebol.

Porque o Flamengo que virou referência  na gestão financeira por equacionar dívidas, aumentar as receitas por conta da recuperação da credibilidade e administrar o orçamento de forma responsável não consegue criar uma identidade na gestão do carro-chefe do clube.

Em 2013, a Chapa Azul venceu, tomou posse e conscientizou o torcedor de que os primeiros anos seriam de controle de custos, negociações das dívidas e baixo investimento. Elias, Carlos Eduardo e Mano Menezes foram as “extravagâncias” possíveis no primeiro ano.

O título da Copa do Brasil com Jayme de Almeida no comando e um time barato para os padrões rubro-negros sinalizou para a diretoria que seria possível manter a austeridade, pensar a médio/longo prazo e continuar vencendo.

As boas notícias fora de campo, como amortização dos passivos, aumento considerável nas cotas de TV, captação de patrocinadores e um inimaginável superávit construíram na maior torcida do país a esperança de que tudo seria naturalmente transferido para o futebol. Contratações mais valiosas, treinadores de ponta, centro de treinamento mais equipado.

Um engano. Fora o título carioca, campanhas pífias na Libertadores de 2014 e nas edições dos Brasileiros. O início de 2016 com eliminações e atuações irregulares no Brasileiro, o outrora incensado Muricy sem dar padrão à equipe e Guerrero, a estrela do elenco, com atuações pluripatéticas ligaram um sinal amarelo.

Acabou a paciência da massa. A segunda etapa do crescimento do clube não se concretizou e Bandeira de Mello está sendo cobrado. Seu maior erro: transformar o Flamengo em um clube morno.

Antes era euforia ou depressão. Contratações sem dinheiro, megalomania sem respaldo estrutural. Por isso só restava brigar em campo por vitórias e títulos. Até para gerar renda. Irresponsabilidade administrativa que servia como uma espécie de doping emocional que alimentava a sede de conquistas. Estimulante que viciou a instituição.

O torcedor médio acredita que a “receita” é a bagunça de 2009. Técnico interino, craque veterano contratado para pagar dívida, investimento de alto risco em um artilheiro instável emocionalmente. Time cheio de incógnitas que deu liga. Mas não passa da exceção que confirma a regra no campeonato por pontos corridos.

O saudosismo que exige um novo Flamengo de Zico só ancora o clube, que não caminha e nem consegue pensar grande sem um “Messias”. Mentalidade que queimou vários jovens promissores por cobrar o quase impossível: repetir um dos maiores times da história do esporte, algo que só acontece uma vez. Passou.

Por isso é urgente encontrar um meio termo. Nem tudo é falta de raça, como cobram os mais exaltados. É nítido, porém, que não há aquela indignação absoluta com o revés. O “rei dos balanços” precisa aumentar a fervura.

Não atrasando salários, voltando para o campo de terra da Gávea ou contratando superastros fora do orçamento. Mas fazendo o chão tremer. Na ambição, na cobrança. Na criatividade para buscar jogadores que resolvam, na cultura de vitória. Pensar grande na justa medida.

O novo com pitadas do velho Flamengo. Sem a loucura que quase afundou o clube, com a insanidade saudável de crer na utopia que consta no próprio hino: “vencer, vencer, vencer”.

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